quinta-feira, 25 de setembro de 2014

LEMBRANDO AS ORIGENS



Na comemoração dos  nove anos do programa Senhor Brasil, na TV Cultura, de São Paulo, Rolando Boldrin fez todo mundo chorar, em minha casa. Ele reapresentou a entrevista com Chico Anísio, onde ele, já cansado, respirando com dificuldade, presta uma  homenagem a Belchior, que por sinal estava no auditório. Ele também se emocionou e chorou. Depois de algumas histórias e causos cearenses, Chico Anísio cantou, declamando, “Galos, Noites e Quintais:

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso,
que hoje eu trago e tenho;
Quando adoçava meu pranto e meu sono,
no bagaço de cana do engenho;
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,
fazendo eu mesmo o meu caminho,
por entre as fileiras do milho verde
que ondeia, com saudade do verde marinho:
Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.
Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo
o mal que a força sempre faz.
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais.”
Veja como foi:

QUANDO SE TEM O MESMO NOME



Não é que acabo de localizar cinco pessoas no Face com o meu nome: Wilson Ibiapina, de Araçatuba; Wilson Ibiapina,do Instituto Federal do Piaui, residente em Terezina. Outros três moram em São Paulo. 

Não sei se meus parentes, pois nasci em Ibiapina, no Ceará. Fui batizado como José Wilson Ferreira Ibiapina e desde os anos 60, quando comecei a trabalhar como jornalista assino Wilson Ibiapina. Meu tio Raimundo, irmão de meu pai, ainda jovem, saiu do Ceará e foi morar em São Paulo.Tinha um filho Wilson. Será que algum desses é ele? O engraçado é que nem eu nem eles se interessaram, até hoje, em tentar descobrir se existe algum parentesco entre nós. 

E eu que achava meu sobrenome raro. Trata-se de uma palavra indígena, tupi, e significa terra cultivada. O meu Ibiapina vem da cidade do mesmo nome, na Serra da Ibiapaba, onde habitavam os índios Tabajara. Eles eram comandados por dois caciques famosos. Diabo Grande (Juruparaçu)  na área onde estão hoje os municípios de Ibiapina e Ubajara. Ele resistiu a colonização pretendida por Pedro Coelho, em 1603. A outra tribo Tabajara ficava em Viçosa do Ceará e era comandada por Mel Redondo (Irapuan). A lendária Iracema, criada por José de Alencar, era lá de Ibiapina, filha de Araquém, pajé da tribo, que era pai também de Caubi. O Cacique Irapuan era apaixonado por Iracema, que, por sua vez se encantou pelo guerreiro Branco, o português Soares Moreno. Iracema morreu de parto e Soares Moreno voltou para Portugal levando seu filho Moacir (filho do sofrimento). Dizem que é por isso que o cearense é nômade. O primeiro que nasceu foi embora. José de Alencar usou o livro Iracema para dar uma explicação poética para as origens do Ceará. Iracema, a virgem dos lábios de mel, virou símbolo do Ceará e o filho dela com o colonizador português representa o primeiro cearense, fruto da união das duas raças.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O COMPOSITOR QUE GOSTAVA DE SAMBA E DE BRIGA






Geraldo Pereira morreu aos 37 anos depois de uma briga com o capoeirista Madame Satã. Levou um soco caiu. Meses depois.dessa briga em ele morreu num hospital do Rio.

Um dos maiores sambistas do Brasil, o mineiro de Juiz de Fora, Geraldo Theodoro Pereira, ficou conhecido no Rio como Geraldo Pereira. Seu primeiro grande sucesso foi o samba Falsa Baiana que fez para o carnaval de 1944 inspirado no compositor Roberto Martins. Ele mandou fazer uma fantasia de baiana e na hora H não teve coragem de vestí-la e sambar. Foi o primeiro sucesso de Geraldo  gravado por Ciro Monteiro. Aliás, foi Ciro Monteiro quem também gravou o samba Escurinho, em 1954, o  último sucesso do mineiro.  Foi no ano de 1954 que ele gravou seu último disco 78: Maior desacerto e Adeus:

"Adeus amor 
Eu vou partir 
É bem melhor eu ir 
Eu ir, e viver em paz 
Já é demais 
Chega de sofrer 
Juro que não vou me arrepender 
(breque-por isso que eu digo) 
Confesso que te amar 
Até morrer 
Foi sempre o meu pensar 
Mas é melhor 
Eu desaparecer 
P'ra meu coração desabafar”

Com esse samba ele parecia prever seu fim prematuro.  Ciro Monteiro contava que estava no velório quando apareceu uma criatura, toda tímida, penalizada. Pegou  no ombro de Ciro Monteiro e disse baixinho em seu ouvido. Seu Ciro, que coincidência... Ciro disse que não tinha coincidência nenhuma, na verdade o cara queria dizer, que tragédia, que tristeza, lamentável. Tudo, menos coincidência.

Geraldo Pereira era brigão, criador de caso. Os biógrafos dele contam que em 1954, quando participou de um show em comemoração ao quarto centenário da Cidade de São Paulo, foi protagonista de mais uma briga. Ao lado dos músicos Buci Moreira, Raul Marques, Arnô Carnegal, Barão, Geraldo Pereira liderou um quebra-quebra na boate Esplanada porque o empresário que os contratou não queria pagar o que era devido.  


Em 1971, em entrevista ao PASQUIM,  Madame Satã contou sua versão sobre a briga com Geraldo Pereira: "Eu entrei no Capela (Bar Capela) e estava sentado tomando um chope. Ele chegou com uma amante dele, pediu dois chopes e sentou ao meu lado. Aí tomou uns goles do chope dele e cismou que eu tinha que tomar o chope dele e ele tinha que tomar o meu. Ele pegou o meu copo e eu disse pra ele: olha, esse copo é meu. Aí ele achou que aquele copo era dele e não era o meu. Então eu peguei meu copo e levei para a minha mesa. Aí ele levantou e chamou pra briga. Disse uma porção de desaforos, uma porção de palavras obscenas, eu não sei nem dizer essas coisas. Aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, ele caiu com a cabeça no meio-fio e morreu. Mas ele morreu por desleixo do médico, porque foi para a assistência vivo."

Outros sambas dele:


Acertei no milhar, Sem compromisso, Pisei num despacho e Bolinha de Papel, que foi regravado por João Gilberto.

domingo, 7 de setembro de 2014

PARECE QUE FOI ONTEM

Alice-Maria

Alice, parece que foi ontem. Você, Humberto Vieira, Sílvio Júlio e Amaury Monteiro comandando a reportagem, todos fazendo a primeira edição do Jornal Nacional.

Oito horas da noite, Cid Moreira e Hilton Gomes. Alfredo Marsillac na mesa de corte. Um trecho da música The Fuzz, de Frank Devol, invade os lares. Pela primeira vez, estava entrando no ar o Jornal Nacional. Primeiro de setembro de 1969, uma segunda-feira.

O Marsillac ainda deve ter guardado o script do primeiro JN, que o Armando deu-lhe de presente com o bilhete: “Marsillac... e o Boeing decolou”. O jornal entrando no ar, na cabeça do Armando Nogueira, é que nem um Boeing levantando voo.  Não pode ter erro.

Quando cheguei em 1970, o JN ainda uma criança e todos com a preocupação de mantê-lo com qualidade, num formato que aos poucos foi se definindo. O Telejornalismo brasileiro era outro depois daquele dia. E você foi peça preciosa nessa mudança.

Não esqueço de sua preocupação, orientando editores, repórteres, cinegrafistas. Em tudo tinha seu dedo. A equipe foi crescendo: Sebastião Néri, Castilho, Nilson Viana, Jéferson, Meg, Ronan, Luis Edgar de Andrade, Vera Ferreira, Lucia Abreu, Edinete Melo, os irmãos Aníbal e Edson Ribeiro e o baiano Jotair Assad inventando coisas. Falar em criação estavam lá o Waisberg e o Mauro Richter. Humberto Vieira, Eduardo Simbalista e Fábio Perez foram os primeiros editores chefes do JN. Nas moviolas os montadores de filmes Auderi Alencar e o João Mello.

Robertinho na arte, Azul na coordenação junto com o Guará e o Assis, que imitava o Cid. Márcia Clark, Márcia Mendes, Sandra Passarinho, Glória Maria, Lêda Nagle, Márcia Prado, Andre Luiz, e os cinegrafistas Chucho Narvaez, Evilásio Paraense Carneiro, Ricardo Strauss, Orlando Moreira e o baiano José Andrade, que depois saiu pelo Brasil formando novos cinegrafistas.


Os contínuos Morro Agudo e Bené, que o Ronan preferia chamar de "alternados", pois nunca estavam na redação quando precisavam deles. Marcos Novaes, o Sol. Pela bancada do JN passaram também Eron Domingues, Sérgio Chapelin, Celso Freitas, Berto Filho, Carlos Campbel, Marcos Hummel. Tereza Walcacer, Henrique Lago, Ricardo Pereira, Pedro Rogério, Antônio Severo, Woile Guimarães, Eurico Andrade, Wianey Pinheiro, Ronald de Carvalho, Toninho Drummond, Carlos Henrique de Almeida Santos, Carlos Henrique Schroder, esse mesmo que hoje é o diretor geral da Rede Globo, todos grandes jornalistas que foram aprender com você a fazer televisão.


Citei alguns nomes, mas na verdade, todos da Central Globo de Jornalismo aprenderam com você. Como a maioria, orgulho-me de ter participado de sua equipe durante 20 anos. 

Abraço forte do Wilson Ibiapina e da Edilma Neiva, seus alunos, admiradores e amigos.

O CEARENSE E A ENCOMENDA



Marisa Mamede (Fortaleza)

É conhecida a mania do nordestino em geral, e do cearense em particular, de não desperdiçar a ocasião de mandar uma “encomendazinha” a um amigo ou parente.

Mas o que nunca se estudou é qual o papel desse hábito milenar na estruturação das redes de cearenses pelo mundo. Quem é cearense e já morou fora do Ceará sabe do que eu estou falando – são poderosíssimas! Capazes de detectar um cearense extraviado a centenas de quilômetros de distância, e trazê-lo para dentro de uma malha de amizade e solidariedade (entre outras características menos virtuosas), por mais que o cabra queira se extraviar. Impossível. Vai ter sempre uma encomendazinha que a tia-avó materna mandou para a filha de um sobrinho que não se pode deixar de entregar. E aposto que muito namoro e casamento assim já foi feito. 

E uma vez estruturadas e seguidamente reforçadas as redes através de encomendas daqui pra lá e de lá pra cá, o que fazem os cearenses quando se reúnem em seus sublimes guetos? Contou-me uma amiga cearense na Paulicéia: a gente ri bastante, conta piada, bebe um bocado, até que alguém colocar um disco do Ednardo e dali a pouco vai todo mundo embora pra casa chorando... É, não se pode ocultar que uma das funções dessas redes é partilhar as saudades da terrinha, sentimento que nunca deixa de habitar o coração de um cearense exilado, e que costuma acentuar-se com a idade e o tempo de exílio, especialmente nas metrópoles. 

Gosto de colecionar histórias de encomendas. Não esqueço de um relato ouvido de alguém que veio visitar um amigo em Brasília, nos idos dos anos 80. O camarada vinha do Iguatu, quase sem escalas, pousar uns dias no Lago Norte, bairro de classe alta. E sua mãe tinha mandado pra comadre, mãe do amigo, dois dos maiores clássicos: farinha e rapadura. Bem embrulhadas em papel de bodega, arrematado com barbante. Chegando ao aeroporto, foi apanhado em um carro moderno e atravessou o eixão em alta velocidade pra entrar no Lago Norte, achando tudo incrivelmente sofisticado.

No caminho ia ficando pequeno ao pensar no pacote. – Meu Deus, como vou dar um presente desses a uma gente tão rica? Vontade de jogar pela janela do carro. Chegando a casa do amigo, portão automático. Eita, danou-se!... E chegou e conversou e contaram casos, e falaram de saudades. Passeio pra cá e lá, e o embrulho na mala. Ao menos a mãe não tinha ligado. Quase perto de ir embora o sentimento filial falou mais forte e ele foi lá, respirou fundo e entregou a encomenda para a comadre da sua mãe, que exultou de alegria.

O artifício pode ser aperfeiçoado de várias maneiras. Itens perecíveis quando o encontro deve ser feito rapidamente, itens pesados quando é preciso demonstrar amizade leal, itens vários quando se trata de saudade acumulada. O importante é não desperdiçar o portador, nem sua franquia de bagagem. 

Entre lembrancinhas e presentões, muita mercadoria circula mundo afora pelas mãos de hábeis cearenses. Soube de um caso de uma buchada pronta que foi parar nos Estados Unidos. Aliás, os produtos locais são sempre os campeões: cachaça, queijo coalho, carne de sol, castanha de caju... Manteiga da terra é também iguaria muito apreciada, especialmente quando o próprio portador é um mala, e merece correr o risco de que o conteúdo extravase do recipiente durante o transporte. 

Quando são os portadores que presenteiam, a liberdade é total! Nesse quesito ninguém supera uma mãe cearense que vai visitar um(a) filho(a) no exterior. 

Foi assim que eu já busquei junto com a minha mãe no aeroporto Charles de Gaulle, um quilo de feijão verde, queijo coalho e maxixe. Minha felicidade era total comendo aquilo tudo temperado com coentro, como manda o figurino. Calorzinho cearense em pleno inverno parisiense. 

Outro dia inaugurei o conceito de meta-encomenda. Mandei por um primo uma encomenda dentro da outra. Ele deve entregar tudo na casa de uma amiga, que deve por sua vez ir levar um presentinho para outra amiga. E porque não pedir 
pra entregar as duas encomendas, uma de cada dez? Primeiro porque convém não abusar de um portador de boa vontade, dando-lhe mais serviço do que o estritamente necessário. Segunda e mais forte razão porque, organizando assim a rede de distribuição, a primeira amiga terá que ir visitar a outra e espero que daí venha uma aproximação entre as duas, vizinhas no bairro do Papicu. Sim, porque a encomenda pode ser usada no sentido reverso também, de outros lugares pra terrinha. O importante é não desperdiçar o portador.

NO DIA QUE LUIZ GONZAGA BATUCOU ASSIM NA MESA DE UM JUIZ



A história é contada por Dominguinhos no documentário O Milagre de Santa Luzia. A briga pelo título do Trio Nordestino foi parar na justiça e Dominguinhos e Gonzagão foram chamados como testemunhas.

O primeiro Trio Nordestino foi formado em 1957, no Rio, por Miudinho no zabumba, Zito Borborema, no pandeiro e Dominguinhos na sanfona. Esta formação se desfez dois anos depois e, como não havia patente do nome do trio, ele começou a ser disputado pelos baianos Lindú, Cobrinha e Coroné e pelos paulistas Xavier, Heleno e Toninho. 

No dia da audiência, marcada para decidir quem tinha o direito de se chamar Trio Nordestino, Dominguinhos diz que chegou cedo com o Gonzagão  e nada do juiz. Luiz Gonzaga convida então Dominguinhos para esperar num bar perto do tribunal. Quando estavam tomando o segundo chope, aparece um portador avisando que o juiz acabara de chegar. Aí, Gonzagão diz: “calma Dominguinhos, agora ele é que vai nos esperar”. E tomam mais uns dois chopes.

No tribunal, o juiz pergunta a Gonzagão se ele conhece esse trio baiano que quer se chamar  de Nordestino. Diante da afirmativa do Lua o juiz pergunta se ele tem alguma música de sucesso. Gonzagão, afasta uns papeis que estavam em cima da mesa do magistrado e começa a batucar enquanto vai cantarolando:

 “Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina”; Neném, neném, neném/ O que aconteceu/Tão todos te querendo/ Tu vem fica mais eu”. “É por isso que Caruarau, é a capital do forró”.  

"Páre seu Luiz!" - implora o juiz, antes que todos os que estavam na audiência começassem a cantar, também. E o Trio Nordestino dos baianos manteve o título. Sua formação é que mudou com a morte de Lindu e Cobrinha, mas o sucesso é o mesmo.

QUANDO A BRABEZA MUDA DE POLTRONA

O jornalista Silvestre Gorgulho e suas histórias mineiras: 

Silvestre Gorgulho

Ano de 1970. Domingo à noite, Jonas, um colega meu da república do MALETA (Beagá), chega esbaforido na rodoviária de Belo Horizonte e pega o ônibus da Cometa para o Rio de Janeiro. Conversa com o motorista:

- Meu amigo, preciso estar em Juiz de Fora pela manhã para a última prova de um concurso, Venho estudando direto e já não durmo há dois dias.

- OK, o que você quer.

- Olha, normalmente já sou difícil de acordar, cansado então vai ser um problemão. Quando chegar em Juiz de Fora eu queria que você me acordasse e insistisse para eu sair do ônibus. Só tenho esta maletinha de mão para facilitar. Por favor...

- Não se preocupe. Pode dormir tranquilo que eu aviso. De Juiz de Fora você não passa.

Jonas foi para a poltrona e dormiu tranquilo. Quando acorda percebe que já estão chegando no Rio. Fica furioso. Vai lá na frente e, descontrolado, começa a xingar horrores o motorista. 

Um passageiro vê aquela cena e comenta com seu vizinho de poltrona:

- Sujeito bravo esse aí, heim? Que coisa!

- Bravo esse? É porque você não viu o rapaz que o motorista tirou do ônibus lá em Juiz de Fora!

ZÉ RODRIX E A CASA NO CAMPO

“Casa no campo foi um momento.
Não era bem aquilo que queria dizer."

Zé Rodrix



O programa Dois em Cena, que Nilton Travesso e Tuta apresentam diariamente na rádio JovemPan, mostrou na quinta, dia 7, uma entrevista dada pelo cantor e compositor Zé Rodrix, onde ele se dizia surpreso com o inesperado sucesso de sua música "Casa no campo". 

O cantor, que morreu em maio de 2009, contou que pensou na música Casa no campo em uma viagem que fazia de Brasília para Goiânia, de forma despretensiosa, e nem imaginava que faria tamanho sucesso. Ganhou festival, foi gravada por Elis Regina. 

Rodrix disse na entrevista que passou a ter uma relação meio estranha com a música que ele achava perigosa, pois força um pouco a barra para a pessoa ser egoísta, ser mais individualista. Ele percebeu que não queria dizer exatamente aquilo.  "A música é um retrato do que a minha geração estava sentindo naquela época, que era vontade de fugir, de largar tudo naquele momento, na década de 70. Não é uma solução perene, como ficou parecendo para muitas pessoas".  

Zé Rodrix lembra que um dia estava lendo uma entrevista de Mário Lago que dizia não  concordar com o isolamento proposto pela música. Mário Lago afirmava que preferia uma casa no meio do mundo, na esquina mais movimentada. Zé Rodrix escreveu-lhe uma carta agradecendo a análise, colocando muito melhor, em poucos palavras, a crítica que  estava tentando fazer.


“Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando
Solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas

Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão,
A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau a pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais 

Em vídeo publicado no Youtube, Zé Rodrix explica um pouco mais dessa história:



Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina