sexta-feira, 7 de agosto de 2015

50 ANOS DE COLUNISMO POLÍTICO DIÁRIO

Edilmar Norões
 
Jota Alcides
 
Certa vez, num evento social em Brasília, tive a chance de perguntar ao jornalista e acadêmico Carlos Castelo Branco, o famoso Castelinho do Jornal do Brasil, o que era essencial para ser um bom cronista político. Era tão grande a importância dele que diziam na época: “O Congresso trabalha muito mais na coluna do Castelo do que no próprio Congresso”. Respondeu-me, aristotelicamente, curto e pleno: "Ser um animal político”. Enquanto animal, uma raposa felpuda, cheia de sagacidade e sabedoria. Foi assim que Carlos Castelo Branco tornou-se o patrono dos colunistas políticos brasileiros, o maior de todos nos últimos 50 anos. Ao lado dele, outros mestres: Carlos Chagas, Vilas-Bôas Corrêa e Jânio de Freitas. Há ainda os notáveis da atualidade: Clovis Rossi, Jozias de Souza, Ilimar Franco, Merval Pereira, Ricardo Noblat, Eliane Cantanhêde, Dora Kramer. São nomes de prestígio nacional. Eles tem em comum a filosofia jornalística do saudoso Luiz Beltrão, o primeiro doutor em comunicação no Brasil, ex-professor da Universidade Católica de Pernambuco e do Centro Universitário de Brasília-Uniceub, maior universidade privada do Centro-Oeste brasileiro. Beltrão centra sua proposta de fundamento ético na prática noticiosa orientada à valorização humana na sociedade. Segundo ele, quase como numa balança, o jornalismo precisa se equilibrar em dois valores ligados intrinsecamente, assim como o direito e o dever: a liberdade e a responsabilidade, valores inseparáveis.
 
Mas, há também colunistas políticos regionais que adotam Beltrão e que seriam igualmente consagrados nacionalmente se escrevessem em jornais de referência nacional. É o caso de Edilmar Norões, radilalista, jornalista, advogado e acadêmico, que está completando neste julho de 2015 exatos 50 anos de colunismo político diário no Nordeste brasileiro Já tem mais de 18 mil colunas diárias publicadas, um acervo respeitável. É um animal político, diria Castelinho.“O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões”, dizia o cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues. Edilmar Noroes é a soma de suas três grandes obsessões: radio, jornal e televisão. Devotado ao jornalismo desde a mocidade, compreendeu cedo, como Bismarck, que a política não é uma ciência exata, exigindo flexibilidade e maleabilidade, e que os políticos não amam nem odeiam. Muito pelo contrário. Diretor, há muitos anos, da TV Verdes Mares e da Rádio Verdes Mares, de Fortaleza, além de atuação no jornalismo impresso diário, Edilmar Norões tem sua trajetória quase toda ligada ao Sistema Verdes Mares, maior grupo de comunicação do Ceará. Conheço-o desde 1967, dos bons tempos do Radio-Noticias Verdes Mares com ele, Mardônio Sampaio, Cirênio Cordeiro e Paulino Rocha. Sua conduta de profissional e de cidadão é irrepreensível. É o maior ícone do jornalismo político do Ceará Começou sua coluna política em 1965 no jornal Tribuna do Ceará, mantida desde 1981 no Diário do Nordeste, principal jornal do Estado, sendo leitura obrigatória de autoridades e personalidades do mundo político e empresarial do Ceará.
 
Caririense de origem, Edilmar Norões projetou-se como multimídia no Ceará e se tornou tão influente que está para o jornalismo cearense como estão Parsifal Barroso, Virgilio Távora, Paulo Sarasate, Lúcio Alcântara e Tasso Jereissati para a história política da Terra da Luz no último meio século. Todos esses grandes líderes passaram ou estão passando, mas Edilmar permanece iluminando o cenário político cearense com sua ética e seu profissionalismo: É um jornalista com atitude de servidor público, que devia ser mas não é a atitude de muitos políticos.“Cada um de nós, sejamos jornalistas, médicos, engenheiros ou de qualquer outra profissão, deve exercer sua atividade com responsabilidade, com ética e procurar nunca se desviar, pois esses desvios é que, na certa, atrapalham e jamais permitirão que o profissional seja reconhecido pelo seu trabalho. Com responsabilidade, ética e profissionalismo, a gente chega lá”, sintetiza o cronista político do Diário do Nordeste, aos 78 anos de idade, decano da crônica política no Ceará.
 
De espírito dialogal e conciliador, sua norma de vida profissional é inspirada em máxima do romancista Gabriel Garcia Márquez: “A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”. Seu legado é o do jornalismo que extrapola o dever de informar por informar para o dever de informar para formar buscando estimular as forças criativas da cidadania nas conquistas do bem comum e no fortalecimento da construção democrática.
 
Sempre admirado por sua sobriedade, sua seriedade, sua serenidade, sua cordialidade e sua afabilidade, Edilmar é adepto do credo do jornalista norte-americano Walter Williams: ”Ninguém deve escrever como jornalista o que não possa dizer como cavalheiro”. Mas, pode um comentarista político escrever durante 50 anos, diariamente, sem ferir alguém? Pode. Prova-o Edilmar Norões. Até a mais dura verdade, nua e crua, ele consegue suavizar, se necessário, com tratamento equilibrado, civilizado e adequado, mas sem mascará-la. Parece ter sido formado em jornalismo pelo Instituto Rio Branco. É um diplomata da notícia.

A INVASÃO DO “ENXAME’’ DOS EX- COLONIZADOS

João Soares Neto 

Enquanto nós, brasileiros, acreditamos estar no pior dos mundos, é preciso abrir os olhos para o que está ocorrendo por aí. A Europa, constituída por países que têm nas suas histórias a adjetivação pejorativa de colonizadores, sofre, desde 2011, com a migração constante de africanos e árabes. 
 
Há oito dias, exato em 30 de julho, o Premiê da Inglaterra, David Cameron, disse o seguinte: “Há um enxame de pessoas vindo pelo Mediterrâneo em busca de uma vida melhor, porque o Reino Unido tem bons empregos, a economia está crescendo, mas precisamos proteger nossas fronteiras”. E arrematou: “Devemos proteger as fronteiras para ter certeza de que os turistas britânicos poderão ir para as suas férias”. É verão na Europa. Seu pronunciamento não foi bem recebido por alguns. O Eurotúnel agora é foco de ataques. 
 
Um pouquinho de história. Quando a escravatura foi abolida, na primeira metade do século XIX, os europeus, que detiveram o comércio de seres humanos, resolveram repensar o que inventar para que as riquezas continuassem a fluir e a nutrir o progresso em curso face à revolução industrial.
 
Levariam 
 
Houve em setembro de 1884 o “startup” - palavra da moda atual - de uma grande reunião na Alemanha que viria a ser conhecida como “Conferência de Berlim”. Desse conclave, encerrado em fevereiro de 1885, participaram, além do país sede,  Reino Unido, França, Bélgica, Holanda ,Áustria/Hungria, Dinamarca, Itália, Espanha, Portugal e os Estados Unidos, o único não europeu. 
 
Esses países dividiram a África segundo os seus interesses próprios,  desrespeitando etnias, crenças e geografias. Atinaram que, além de mão-de-obra barata, teriam os virgens subsolos africanos para extrair as riquezas minerais possíveis. Do ouro ao ferro, do chumbo ao diamante. Admite-se que 90% do  território da África foi dominado até grande parte do século passado. Encerrada a dominação colonial – e mesmo na sua constância – começa o êxodo e o desejo dos ex-colonizados de habitarem os melhores ares dos países que os dominaram de forma não muito gentil. 
 
Não muito diferente do que aconteceu na África, quase a mesma constelação de países, a partir dos grandes descobrimentos, com a chegada do português Vasco da Gama à Ásia, invadiu o sudeste asiático e o Oriente Médio. Sem precisar de Conferência, houve o que se convencionou chamar de “Partilha da Ásia”. 
 
Foi o “enxame” da voracidade europeia de expansão comercial e a introdução, por exemplo, de “plantations” para o cultivo de arroz, pelos franceses; da seringueira, pela Grã Bretanha; e da cana-de-açúcar pelos holandeses.
 
O continente asiático, depois do fim da dominação europeia, tendo a China, o Japão e a Índia como referências, está em notável ritmo de crescimento. O mesmo, entretanto, não acontece com o Oriente Médio, onde cristãos e muçulmanos, especialmente os xiitas, os curdos e os sunitas, parecem ter despertado após as invasões do Afeganistão, da Síria e do Iraque, e do recente acordo com o Irã para a não fabricação de armas nucleares. Há muitos lados em luta, desde o surgimento e a posterior morte de Osama Bin-Laden. Estima-se que existam hoje cerca de quatro milhões de refugiados no Oriente Médio.
 
Por tudo isso, muitos jovens árabes saíram e continuarão a tentar sair de seus países, ou do que resta deles. O caminho natural da fuga, a pé ou por veículo, passa, entre outros, pela Turquia. Os turcos já prometem construir um alto muro que impeça ou dificulte a invasão de seu território, uma das rotas para o norte da Europa. Por outro meio, o mar Mediterrâneo é o cemitério e o estuário dos africanos que fogem de problemas similares e têm morrido, aos milhares, nas travessias em velhos navios mercantes, cargueiros e até batelões improvisados.
 
Há campos para atendimentos a refugiados, em especial na Itália e na França, trens e veículos sofrem ataques. Tudo leva a desdobramentos que ainda não sabemos onde irão parar. 

FAMÍLIA GUINLE: DO ARMARINHO À DINASTIA

 
Copacabana Palace
 
João Soares Neto
 
“Se você deseja, não lhe fará mal”. Máxima dos Guinle
Clayton Lima, da Livraria Smile, deu-me um exemplar do livro “Os Guinle – A História de uma Dinastia”, obra do historiador e professor Clóvis Bulcão. “Os Guinle” foi elaborado com cuidado, lançado em junho pela “Intrínseca”. Começa com frase de Nelson Rodrigues: “Quando desaparece um Guinle, morre um pouco do nosso passado”.
Em seguida há a genealogia da família, descendente de imigrantes franceses, iniciada com Eduardo Palassim Guinle e Guilhermina Coutinho Guinle e vai até a sua quinta geração. Há uma cronologia, a partir de 1840, mas, na verdade, o ponto de partida é o nascimento  de Eduardo Guinle, em 1846.
 
No mundo dos negócios a vida começa em 1871, com a abertura de um armarinho, no antigo centro do Rio de Janeiro, quando os sócios Eduardo Guinle e Cândido Gaffrée fundaram o “Aux Tuileries” que vendia um pouco de muitas coisas.
 
Eduardo e Guilhermina, casados em 1878, tiveram os filhos Eduardo, Guilherme, Carlos, Arnaldo, Octávio, Celina e Heloísa.  Uma das características da família foi morar bem, cultivar relacionamentos  com o poder, e dar aos filhos  instrução, oportunidade de aprenderem línguas e obter graus de ensino superior.
 
O ponto de inflexão da ascensão de Eduardo, o patriarca, e de seu sócio Cândido Gaffrée, foi a disputa da licitação para operar e ampliar o Porto de Santos. O fato aconteceu em1888, depois de duro embate. Já em 1892 era inaugurado o novo porto com 260 metros de caís construído pela sociedade.
 
Daí para frente há a entrada na área elétrica, concorrendo com a Light, poderosa empresa canadense. Esse novo ramo de atividade também foi decisivo para o crescimento da engrenagem empresarial e social dos Guinle. 
 
Por outro lado, em 1902, surge o Fluminense Football Clube, do qual os Guinle viraram sócios. O Fluminense, ainda hoje, leva o nome de “pó de arroz”, por ter sido fundado por pessoas de bom nível social. Os Guinle tiveram influência na construção do estádio do clube onde foi disputado a decisão do campeonato Sul-americano de 1918, quando o Brasil venceu o Uruguai.
 
Eduardo, o patriarca, morre em 1912. Em 1914, seu  filho Octávio - que procurava entrar no “jet-set" americano- é preso em Nova Iorque por suposto ataque físico à americana Monica Borden, com quem, depois de um acordo em que desembolsa 50 mil dólares da época, resolve casar. Esse casamento, como era de se esperar, durou apenas dois anos.
 
Com a urbanização do Rio de Janeiro e a inauguração da nova Avenida Central (hoje, Rio Branco) que seguia os passos da modernização de Paris de Haussmann, a família funda uma hotelaria. Em 1918, e surge o Hotel Palace no centro.
 
Copacabana era o futuro do Rio e a família comprou as terras que pode e,  em uma delas, resolve construir o hotel Copacabana Palace, inaugurado em 1923. “O Copa” sempre foi a obra mais visível da família, embora o grosso da fortuna da dinastia esteja ligada aos 92 anos de controle ininterrupto do Porto de Santos.
 
Saindo da cronologia, para não atrapalhar a quem desejar ler o livro, um fato peculiar chamou-me a atenção. O regente cearense Eleazar de  Carvalho foi beneficiado com uma bolsa de estudos por Arnaldo, filho de Eduardo, que assumira, em 1941, a presidência do conselho da Orquestra Sinfônica Brasileira. Eleazar foi para a Berkshire Music Centre, em Massachussets, e recebia duzentos dólares- que valiam muito - a cada mês.
 
Dou por terminado este relato, mas sem esquecer que o perigeu dos Guinle acontece em 2004 com a morte do “playboy” Jorginho Guinle, que foi o garoto propaganda do Copacabana Palace. O Copa foi vendido a grupo estrangeiro em 1989.

Homenagem 80 anos Wilson Ibiapina